Agora apeteceu-me escrever acerca de uma conversa que tive não há muito tempo com alguém e que me deixou a pensar sobre aquelas alturas da vida que uma situação à partida atraente se transforma numa prisão?
O que fazer quando aquilo ou quem nos deveria fazer felizes (e fez à partida) deixa de o fazer?
O que é que acontece para que o que faz todo o sentido deixe de o fazer (claro que isso não acontece bruscamente, mas sim aos poucos e por isso mesmo é difícil tomar consciência do que está a acontecer até a bolinha de neve se ter transformado numa avalanche mortífera)?
Como é possível que todas as certezas e a sensação de bem-estar tenham dado lugar às dúvidas e à sensação de náusea?
Como é possível que o mundo volte a fazer sentido quando nós mesmo nos sentimos a desintegrar por dentro?
O que fazer quando isto acontece?
Eu sei que na vida há um tempo para tudo, tempo para sofrer e tempo para rir e só nos podemos levantar do chão se antes tivermos caído... mas é que às vezes há com cada queda, daquelas de partir os ossinhos todos do corpinho, mas lá encontramos maneira de nos levantar e erguer a cabeça, cada um à sua velocidade e do seu modo muito particular, porque receitas mágicas não existem.
Há decisões difíceis de tomar... mt difíceis... que implicam perdas umas mais significativas que outras mas no fim, maior perda será enganar-nos a nós próprios, cegar e fechar os olhos para o que nos rodeia... e eu sei-o e sei-o muito bem...
As perdas e os trambolhões que vamos dando podem ser originadas pelos nossos próprios actos, o que muitas vezes faz com que nos voltemos contra nós mesmos, ou elas podem ter uma origem totalmente exterior a nós, o que impede que possamos exercer aqualquer tipo de controlo sobre as circunstâncias e aí a nossa raiva e indignação pode voltar-se para o mundo de uma forma indiscriminada...
Normalmente quando tentamos dar sentido às perdas que vamos sofrendo, sejam elas de alguém, de um ideal, de um projecto de vida, ou o que for, o tempo é importante, é preciso respirar fundo, bem fundo e muitas vezes... temos de tentar juntar os pedaços e curar as feridas o melhor possível, porque embora o nosso mundo interior possa ter ruído, a vida não parou, como não pára nunca, e o melhor que temos a fazer é levantar-nos com a certeza de que as nossas cicatrizes nos acompanham por algum motivo, que é para que não nos esqueçamos do passado e para que possamos enfrentar o futuro com uma nova consciência de que coisas melhores por aí virão...
Porque o dia também não existe sem a noite e os rios desaguam no mar... depois da tristeza vem a felicidade.
Bem... já chega, que não me sinto com muita clareza neste momento...