domingo, 13 de junho de 2010

Espiral destrutiva



Ao conversar com alguém, não há muito tempo, dei por mim a pensar que por vezes não importa o que uma coisa nos magoa, porque deixá-la dói muito mais... eu sei bem que isso é verdade e compreendo perfeitamente como é que nos podemos deixar arrastar por essa espiral de dor porque eu mesma já lá caí, e por isso mesmo sei o quão difícil é estar no centro da espiral, querer sair e não conseguir, sentir que nos estamos a diluir e a desaparecer lentamente enquanto queremos porque não nos conseguimos afastar e não queremos porque sabemos que nos estamos a trair a nós próprios e que somos nós que continuamos a enterrar a lâmina cada vez mais fundo no nosso peito... e se custa a respirar...
Às vezes entramos por caminhos escuros que não queremos e não sabemos bem como sair de lá, mas apesar da nossa incapacidade de ver mais além, a saída está lá, ainda que ao longe, ainda que pequena, ela está lá mesmo que não a consigamos vislumbrar... custa que tenhamos de cair, percorrer o inferno onde até as lágrimas secam porque nós secamos por dentro de tão dilacerados que ficamos mas essa caminhada eventualmente acaba e finalmente a sensação de alívio e bem-estar volta a fazer parte de nós, e o mais importante é que voltamos a ser nós mesmos, a estar em contacto com a nossa essência e angústia e o sentimento de aniquilação do ego desaparece, é o renascer das cinzas, tal e qual como uma fénix... e de novo na luz olhamos para nós e contemplamos as cicatrizes que nos marcam e recordam da nossa caminhada e de novo podemos olhar com vontade e garra para a imensidão de possibilidades que se estende ante os nossos pés... e é nesse momento somos tudo e queremos tudo e não há amarras que nos prendam, não mais somos um navio naufragado, somos sim o mar imenso e rico em vida...
E porque se não há bem que sempre dure, também não há mal que não tenha fim... e a felicidade é feita de momentos e para lhe darmos valor temos de conhecer a dor, uma não existe sem a outra... é como o bem e o mal, o bem só é bem se existir o mal, caso contrário como saberíamos o que é o bem? como poderíamos diferenciar estar bem de estar mal? Seria tudo igual, a vida seria monótona porque iria correr toda no mesmo registo, não haveriam momentos bons nem momentos maus, apenas momentos todos eles com o mesmo significado, percebidos sempre da mesma maneira...
Não há ninguém que possa dizer que nunca sofreu ou que nunca foi feliz, pois todos fomos pelo menos um pouco de ambas as coisas, e não sou masoquista nem nada que se pareça, mas a verdade é que são o sofrimento e as dificuldades que nos fazem dar mais valor à felicidade e é a recordar os momentos de felicidade passados que nos faz querer ir mais além, não nos contentarmos com pouco...
Eu, quero tudo, migalhas não me convencem e nunca ficarei na sombra porque eu sou o sol e não aceito menos que isso... e sei-o por todos os maus momentos e sofrimentos pelos quais já passei, e mais ainda, por todos os momentos de felicidade completa e total que já vivi e que foram muitos, mesmo muitos.

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